terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A questão do discernimento...

"Primeiras Impressões >> Orgulho e Preconceito"
Jane Austen


"(...) O orgulho tem mais a ver com nossa opinião a respeito de nós mesmos, a vaidade, com o que desejamos que os outros pensem de nós."

"- Eu não sabia - continuou Bingley imediatamente - que a senhorita era uma estudiosa de personalidades. Deve ser um estudo interessante.
- É, mas personalidades intricadas são as mais interessantes. Elas têm pelo menos esta vantagem.
- O campo - disse Darcy - deve, em geral, oferecer poucos objetos para tal estudo. Entre os habitantes do campo, o ambiente em que as pessoas se movem é um tanto confinado e invariável.
- Mas as próprias pessoas mudam tanto que sempre há algo novo a ser observado em cada uma delas."



"- Existe, acredito, em todas as naturezas um tendência para um determinado pecado... um defeito natural, que nem mesmo a melhor educação pode extinguir.
- E o seu defeito é odiar todas as pessoas.
- E o seu - respondeu ele com um sorriso - é propositalmente interpretá-las mal."

"- E nunca se permite ser ofuscado pelo preconceito?
- Espero que não.
- É especialmente importante, para os que nunca mudam de opinião, estar seguro de fazer um julgamento acertado da primeira vez."



"(...) Com muita frequência somos enganadas apenas por nossa própria vaidade."

"Envergonhava-se cada vez mais de si mesma (...) 
- De que modo desprezível agi! - exclamou. - Eu, que me orgulhava de meu discernimento. Eu, que me congratulava por minhas habilidades. (...) Até este momento eu não me conhecia."
----------------

Querida srta. Elizabeth Bennet (ou diria J. Austen?),

Certamente nos prendemos demais às coisas, inconscientemente, claro. Tentamos quebrar ideologias, padrões, regras e exceções, e sempre haveremos de esquecer algo. Inevitavelmente. Até o absoluto é relativo.
O fato é, por mais que sigamos nossos instintos, construamos nossas ideias, confiemos nesses discernimentos, sempre estaremos nos jogando à risca. Sempre tivemos medo desse risco, mas não de nossos ideais, erguidos em impressões daquele lado que se mostra e não se mostra por completo. É delas que quebramos a cara e costumamos culpar aquele outro, o ousar que permite que tudo isso vá em frente. Esse atrever-se é aventurar-se em nossa postura, dar a cara a tapa e ver no que vai dar. Nossa convicção é apenas o pé na tábua para ir em frente... E não nos importamos, parece que é a única coisa que podemos nos agarrar, porque se não não temos nada a considerar. 
Isso é o pouco que conhecemos, que constatamos. Não nos conhecemos, tampouco àqueles que nos rodeiam, que mal sabem do que falam... só reagimos entre nós mesmos. Ainda assim nos achamos espertas demais. Mas tentemos não ser mais presunçosas nessas questões, nem sempre se aventurar nelas nos dá garantia de algum resultado ou bom resultado.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Isso pode demorar mais do que se pensa - Parte III


Conversando com a consciência...
- No que está pensando?

- No que estou pensando? Nada em particular.
- Então pensas em algo. Em quê?
- Em... como poderia te responder sem realmente lhe dizer no que eu estou pensando.
- E pra que tanto esforço para não me dizer?
- Para o pensamento não fugir.
- Se você me contar, ele não iria embora.
- Iria.
- Como?
- Ele não seria mais meu, seria livre. Prefiro o silêncio.
- Compartilhe o silêncio.
- Já tem muita gente fazendo isso. Um pensamento a menos geraria menos comoção.
- Mas aí vão cobrir o espaço que você poderia ter usado de uma boa forma com algo que não teria o mesmo valor. Se você está pensando é porque de algum jeito isso mereceu sua atenção.
- Se mereceu minha atenção não quer dizer que mereceu a sua. Só queres saber para descobrir meu não-dito.
- Não gosto do silêncio. 
- Percebe-se. Ainda tem muita gente para lhe contar as coisas, as mais banais, as mais triviais... mas ainda tem as mais legais, as mais importantes... 
- Mas eu queria saber de você. Parece ser importante.
- Só parece.
- Me diz que eu digo se é ou não importante. 
- O fato de você me marcar em seus joguinhos não quer dizer que é importante.
- Pra alguém deve ser. O ideal é fazer chegar a ela.
- Um dia de qualquer forma, deve chegar a ela. Se tiver que ser.
- Eu estaria facilitando o processo.
- Nem tanto. E não posso garantir que é de importância.
- Então diz.
- Deixa amadurecer.
- Eu ajudo a crescer.
- Não precisa. O pensamento dá seu jeito.
- Só diz logo.
- Quer saber? Esqueci...
- Sei. Aham.
- Se tiver que voltar, voltará.
- Deixo-te um espaço, espero por ele.
- Você diz isso pra todo mundo, por isso fica perdido.
- Tenho que dizer, cada um tem seu apreço, por incrível que pareça.
- Sei que sim, só espero pelo momento certo.
- Esse é o momento certo, você está pensando.
- Estou, mas ainda é muito 'primeira instância'.
- Vai perder sua chance.
- Ainda tenho milhares.
- Você que pensa...
- Justamente.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Definitivamente

Na ponta do Lápis - Leonardo Schabbach





"O pensamento surge do incômodo."

Nefelibata?


Dizem por aí...

[Que, ou pessoa que vive nas nuvens, cujo espírito vagueia num mundo ideal. Diz-se de, ou literato sonhador que se serve de uma linguagem de conotações imponderáveis, puramente sugestiva. Diz-se do escritor que não obedece as regras literárias. No contexto geral, trata-se de uma pessoa idealista, que vive fugindo da realidade.]

... há quem diga que não sonha, que não pensa longe.
Há quem diga ser direto, conciso e breve.
Mas há quem diga ser sincero e aberto? 
Pior, há quem diga...
Melhor, há quem escreva.

♪ Arise
Arise and be
All that you dreamed, all that you dreamed... ♫
Flyleaf - Arise


a não ser se considerar o ópio da época, mas não agora...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mais um episódio de epifania - Curtacontos: Pensando longe

Depois de muitos estudos, uma hora a gente começa a refletir. Estava eu olhando mais uma matéria sobre curtacontos  - microcontos, minicontos, nanocontos... que nome você prefira - quando acabei me deixando levar sobre essa questão de forma limitada: Seriam os curtacontos um modo renovado de parnasianismo????

Muita viagem, eu sei, mas faz sentido. Me diz se não faz:

Curtacontos são, como o próprio nome diz, contos pequenos. São criados e postados no espaço cibernético, adaptados a uma forma preestabelecida pela rede que tanto o tem divulgado – é uma atividade ainda recente, mas que aos poucos tem crescido. Feito por qualquer pessoa, a ideia é de se fazer uma síntese em até 140 caracteres, de qualquer tema que queira, utilizando-se de elementos da língua para expressar algo. 

Onde o Parnasiano entra nessa história?

Parnasiano, como bem alguns lembram nos tempos de escola, foi uma tendência de escrita poética que prezava pela forma fixa. De maioria, era como se quisessem pegar um fato e moldá-lo em uma pintura real, descrevendo minuciosamente o que o autor tinha em mente – acho que por isso que a maioria parecia ser uma cena fragmentada de um filme, como uma foto mesmo ou pintura. Tendo isso em primeira vista, eles partiam para outras características, como as rimas e ritmo que marcariam suas linhas.

E a arte pela arte?
Essa é a pegadinha, mais uma “mentirinha” contada pela escola: Parnasianos só começaram a ser puristas depois de muito tempo... se for verificar essa história, percebe-se que as obras tiveram muitas edições, em que os autores tentavam se consertar para primar a língua formal. Mas vai ver as primeiras edições, as que consagraram muitos autores por aí, elas sim traziam o parnasiano nascente que eles tanto achavam glorioso. A ideia simplesmente era de ter forma fixa e ter rimas perfeitas, as regras gramaticais que se conformassem.
Então veio um gênio e quis “obedecer” essas regras, fechando cada vez mais o clubezinho deles de cultos e eruditos com palavras rebuscadas e o que tivesse direito. Muitas das poesias que eles não conseguiram adaptar a esse novo ideal ficaram pra trás só porque não se deram bem com as mudanças. Talvez a escola tenha inventado essa “mentira” (omissão?) de purismo poético pra evitar a confusão com as edições, porque o que deve ter de poesia duplicada, triplicada ou jogada fora, eu não saberia dizer.

Enfim, o que eu quero dizer com isso...
Se o curtaconto tem a forma fixa de 140 caracteres e normalmente confere de o autor encaixar sua ideia nela, seria ou não essa síntese um novo parnasianismo, um parnasianismo-não-purista-não-exatamente-poético?

Quer dizer, não que seja propriamente, mas, sei lá, é a forma querendo brilhar de novo, já que o que ultimamente a Literatura tem brincado mais com o conteúdo? Pense um pouco.

-- Cada vez mais vejo essa coisa de literatura cíclica --

domingo, 27 de novembro de 2011

Leitura e Spoilers: Posso contar? Parte II

Parte I

As releituras


Se vamos reler alguma coisa é porque gostamos da primeira vez, logo sabemos tudo o que vai acontecer e como vai acontecer... entretanto, vendo por esse lado, o interessante é saber usar esse conhecimento, seja para encontrar um ponto passado despercebido, seja para curtir novamente aquilo que você gostou e quer ver novamente. Sendo então a releitura prazerosa, você acaba por se concentrar nos detalhes.
A mesma coisa acontece com os spoilers, essa é sua proposta. Eles não estragam leituras, eles podem aumentar a satisfação e o interesse do leitor, pois são auxiliares de leitura.

Leitores, fiquem calmos...
Quem interfere na história é você, não o spoiler. Você ainda tem seu espaço, ainda pode passar por todas as etapas. O spoiler é apenas uma informação, que não tem capacidade de destruir um enredo, só vai lhe ajudar a perceber mais os detalhes que em sua leitura rápida e ansiosa você deixou passar batido. Por isso dizem que a cada releitura "descobrimos" algo novo no texto. Tudo está lá descrito para lhe dar o prazer de ler.

“Na releitura o leitor vai ler mais devagar e nem por isso de forma menos prazerosa (...) o leitor pode rastrear as pistas que o autor foi lançando aqui e ali no romance e ele não percebeu.” (CARNEIRO, 2010)

E como fica o papel do leitor nessa confusão toda?
Quer que eu seja mais redundante? Ok.

- Ainda é dele e não tem que lhe tire isso. O texto quando lido, está incompleto: o leitor se utiliza dos espaços em branco, do não-dito, do vazio... que lhe é reservado, para construir um entendimento, passando pelas etapas que o texto lhe levará. Não se espera que apenas o leitor esteja preparado para interpretar, mas o texto dá um jeito de o preparar, ajudando-o a construir de acordo com as pistas que cede. Ou seja, ocorre uma dialética cooperativa entre o leitor e o autor dentro do texto.
Dessa relação, usufruindo do prazer estético (participação no texto), da fruição de leitura (encontro de expectativas entre leitor e autor) e da catarse (o emocional ativado), tendo ou não um spoiler, o texto vai garantir, por questões linguísticas ou extralinguísticas, a participação do leitor. E ainda que se saibam coisas ou o fim da história antes de ler, o melhor é saber como tudo isso se construiu; só o livro pode lhes dizer isso.

OBS: Aí que me replicaram - "acho que essa questão é de gosto"
É possível, não nego, a pesquisa ainda não é grande o bastante, mas já deixa as pessoas pensando. 
No entanto, acredito que os leitores frustrados - não sou uma - ainda não perceberam que essa sua frustração é uma reação que mesmo sem spoiler o leitor a teria. Se a mocinha morre, se o vilão ganha, se você se engana, se espanta... o que for, é apenas uma resposta antecipada, que possivelmente a história já deu a entender e nada de você querer sacar. 
Mas o melhor, ainda acredito, é como a diegese (aquela lógica corrente, seja na seleção de palavras, seja na seleção de imagens) vai te convencer. Como disse questionei anteriormente, "afinal, o que é mais importante, a jornada ou o destino?".

Por enquanto, é só mais uma teoria.

K. S. Ribeiro - Graduanda do curso de Letras (UEMA)

REFERÊNCIAS:

CARNEIRO, Flávio. O Leitor Fingido: ensaios. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.

DANIEL, Sandra. Estudo mostra que spoilers não estragam a história. Estrada Literária – Clube de Leitura. Disponível em: http://www.estradaliteraria.com.br/. Acesso em: Novembro, 2011.

EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. Tradução Waltensir Dutra. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

ECO, Umberto. Lector in fábula – La cooperación interpretativa en el texto narrativo. Traducción de Ricardo Pochtar. 3ª ed. Barcelona: Editorial Lumen, 1993.

FLORY, Suely Fadul Villibor. O leitor e o labirinto. São Paulo: Arte & Ciência, 1997.

ICULT GENERATION. Disponível em: http://www.icultgen.com.br/. Acesso em: Novembro, 2011.

KIDERRA, Inga. Spoiler Alert: Stories Are Not Spoiled by 'Spoilers'Disponível em:
http://ucsdnews.ucsd.edu/newsrel/soc/. Acesso em: Novembro, 2011.

PERIN, Thiago. Saber de spoilers faz você gostar mais da história. Superinteressante. Disponível em: http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/. Acesso em Outubro, 2011.

Leitura e Spoilers: Posso contar? Parte I


Afinal, o que é mais importante, a jornada ou o destino? (Estrada Literária - Clube de Leitura)

Um caso em particular do processo de leitura é o seu encontro com spoilers.
Falar de spoilers implica polêmica, pois acredita-se que são "estraga-prazeres", em que o leitor se sente ameaçado com tal presença. Ameaçado como? Acha que isso vai afetar sua fruição.
Fato ou senso comum?

Busquei um pouco de teoria da recepção - aquela parte da crítica que foca o papel do leitor - para verificar o caso e uni com uma pesquisa de Psicologia feita na Califórnia.

Antes disso, o que são spoilers mesmo?
- Ah, são aqueles pontos de estória "indesejados", com trechos, resumos, fatos, que contêm revelações de uma trama, que se diz prejudicar a fruição daquele que lê ou assiste algo pela primeira vez. 
Vindo do inglês (to spoil), significa "aquele que estraga", "aquele que destrói", e, adaptado ao português, encontra-se como "estraga-prazeres". Muita depreciação só no nome, não?


Onde encontramos?
- Diversas mídias; porém, as mais procuradas são as virtuais: sites informativos, fóruns e blogs, que indiquem aos leitores e telespectadores sobre as tramas que tanto lhe deixam curiosos. São geralmente marcados por imagens de alertas ou escritos antes da matéria, avisando o conteúdo "indiscreto":


Pra que tanto alarde? 
A pergunta, na verdade, quer dizer: como isso reflete no leitor?

Há leitores que não se intimidam com essa presença ou conhecimento, são indiferentes... quando não, buscam por essas informações, sabendo trabalhar com elas em suas leituras, pois não se importam ou acreditam que uma informação dessa possa lhes interferir. Entretanto, existe o outro tipo de leitor, que demonstra sua profunda indignação, frustrado por não conseguir lidar bem com essa presença. Abominam de tudo que é jeito:

É dar muita pretensão aos spoilers, não?

Mas por que tanta abominação?
- Os leitores que se sentem ameaçados se afastam dessas informações por acharem que o spoiler é aquele que vai tirar seu papel, como se dessem tudo de "mão beijada". Relatos falam da "quebra de encanto", que não sobra espaço para que ele mesmo possa "especular, deduzir fatos, formular hipóteses, construir relações, preencher lacunas, comprovar suposições"... Sendo seu maior desejo fazer isso ante uma obra, dizem que o spoiler, por ter informações valiosas, não o deixaria passar por todas essas etapas. Será?

“Histórias não são estragadas pelos spoilers” (Stories Are Not Spoiled by ‘Spoilers’)

Recentemente foi feito um estudo na Universidade da Califórnia (San Diego, EUA) pelo Departamento de Psicologia, liderado por Nicholas Christenfeld e Jonatha Leavitt, cujo tema era a presença de spoilers em narrativas. Foram selecionados 12 contos: 4 irônico-humoristas, 4 de mistério e outros 4 literários. 
Havia três versões de cada – uma normal sem spoiler, outra com um parágrafo inicial que resumia o enredo e revelava detalhes importantes da trama, e ainda outra com esse mesmo texto, só que inserido no meio da narrativa. Entre as obras, foram selecionados esses autores: John Updike, Roald Dahl, Agatha Christie, Anton Chekhov e Raymond Carver.

As três versões de cada história foram lidas por pelo menos 30 pessoas e a taxa de hedonismo – ou o índice de felicidade/fruição – obtida com o conto, calculada.

Constatações da pesquisa:

- Os leitores preferiram as versões com spoilers no parágrafo original, mesmo nas estórias com viradas de enredo e aquelas de mistério. Pela tabela - coluna preta para aquelas com spoilers, coluna branca para aquela sem spoilers - só houve um caso em que a coluna branca passou da preta e ainda assim, por muito pouco. 
- Para os pesquisadores, o enredo seria quase irrelevante - como um pretexto - sendo o importante a forma como tudo é contado, além de que isso de alguma forma simplificava a história, tornando-a "cognitivamente" confortável de entender. Daí eles ainda puxaram outro gancho: as releituras.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A poesia não morreu - uma epifania



Pra quem não é a melhor fã de poesia, até que pensei muito nessa história.

“♪ A memória desvendou
E a história se escreveu
Em fábulas se fez
E nasceu era uma vez...

Entre monstros e dragões
Aventuras e paixões
Dizem sempre a verdade
Ideal de realidade ♫”

Banda Veja - Heroi


Lá das épocas dos castelos, dos guerreiros, dos bobos da corte, de princesas e príncipes, reis e rainhas... surgiu a poesia em forma de trovas. Também chamadas de cantigas, eram poesias de composições simples acompanhadas por uma trilha musical que, além de facilitar a memorização, contavam pequenas histórias de amores idealizados, amizade e saudade sem esquecer também das críticas aos costumes em cantigas de mal-dizer.
Predominando o oral, aos poucos foram sendo escritas. De língua portuguesa, até sua independência, se misturava ao galego. Também existia a prosa... Novelas de cavalaria eram narrativas orais passadas de regiões em regiões, gerações a gerações, em encontros para contar lendas e aventuras heróicas.

“♪ Seja como for
Real ou invenção
O que vale é fazer
O que faz bem a você

Seja como for
Real ou invenção
Melhor acreditar e seguir a direção... ♫”

Banda Veja - Heroi


Correndo pelo tempo, perdeu a companhia musical e foi se escrevendo nos papeis que encontrou. Exaltou, brilhou, cresceu, espaireceu, sumiu e fundiu. Tantas foram as preocupações com métrica, com rima, com ritmo, com vocábulos... temas. Chegou ao século XIX perdida pelo avanço da prosa, exigiu seu posto de volta em “parnaso” e de simbolistas, clamaram ainda pela musicalidade. Da virada pro Modernismo, “formas e conteúdo, pra quê, né?” Poesia era leve, livre e solta.

“♪ Sinceramente, você pode se abrir comigo
Honestamente, eu só quero te dizer ♫”

Cachorro Grande - Sinceramente

De lá pra cá, quantos livros de poesia vemos nas vitrines? Até outro dia eu diria que não tem... mas pensando bem, tem sim. Tantos livretos de poesia das quais passamos e olhamos: CDs e DVDs de música

“♪ E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu ♫”

Pitty – Na sua estante
.
É isso, a poesia retomou a música, a literatura retoma seu ciclo. Não tão publicada em livros, a poesia resolveu se misturar aos mil ritmos que a música lhe oferece, ora preocupada com a forma e rimas, ora preocupada com o conteúdo. Mas ainda, poesia.

“♪ Eu sei que lá no fundo
Há tanta beleza no mundo
Eu só queria enxergar
As tardes de domingo
O dia me sorrindo
Eu só queria enxergar ♫”

Pitty – Se o mundo acabar hoje

“♪Por todas as contas, por todos os objetos
Essa é a tendência, isso é viver
Por mais coerência, mais acertos, muito mais alvos
Muito mais cor ♫”

Dead Fish - Você

O 'poema' pode ter caído, mas a 'poesia' ainda está aí.

“♪ Nesse quarto escuro
Existe um menino assustado
Ele é sozinho
E teme que o mundo encontre o seu cantinho ♫”

Sandy Leah - Esconderijo

sábado, 5 de novembro de 2011

Nada

Bem aqui, na ponta de meus dedos, só falta digitar um âmago que... não quer ser digitado.
Querendo um momento poético e nada até agora.
Nada. Nada.
Sei que tem algo preso - quer se manter preso.

Na espera...
Frustrada.
E nada.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Gaveta de preciosidades


No nosso mais íntimo
atrás das meias e dos brincos
existe coisas inimagináveis

Na verdade imagináveis
pela mente perigosa
que precisa se encontrar para deixar de ser criminosa

Porque é crime esconder
é crime guardar
tanta preciosidade abafada 

Esperam e nos chamam
querem uma chance de respirar o ar
que não seja aquele preso com ele

Não se contentam com nossas visitas
mas ficam felizes do mesmo jeito
só a espera de mais um pulinho seu

E a cada um
te recebem com um sorriso
porque é você que vai ditar suas histórias

Não importa quanto tempo ele espere
ele espera
porque tempo é o que mais lhe resta

Isso não é um poema
- avulso - 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Contando um conto, Pobre Não Tem Sorte


Não tenho o costume de fazer resenha, mas parece que a Mariana (@marilouveira) tava me pedindo, porque a sensação que tive das linhas de Leila Rego (@LeilaRego) foi de “eu tenho que compartilhar com alguém”. Não é a toa que enquanto lia Pobre Não Tem Sorte, pensei em pelo menos três amigas para emprestar, com aquele ar de “você tem que ler esse livro!”.

A primeira vez que o vi foi em divulgação pela internet e o nome me chamou a atenção. Ficou no meu skoob, me dizendo ser um chicklit de muita comédia – comprovado e aprovado. ~ e foi por ele que conheci o grupo Novas Letras (@novasletras)... ganhei um sorteio deles, e além de ter ganhado o livro (autografado), ele chegou na semana do meu aniversário :D 
Brinquei com um amigo dizendo que “pobre não tinha sorte” porque o primeiro sorteio não saiu meu nome, mas por alguma razão fizeram um novo sorteio e cá estou compartilhando.  

Pobre Não Tem Sorte é o tipo de livro que, se você precisa fazer uma pausa daquele estresse e rir um pouco, ele te oferece mais que isso. Te prende a ponto de você se prometer ler mais uma página para fazer um break e ir fazer seu jantar, e você acaba lendo umas cinco a mais nessa brincadeira. E ainda enquanto faz o jantar fica rindo sozinha. Aí você volta pro livro e não se aguenta, ri que se acaba... 
Impossível não rir com a Mariana e como ela conta sua trajetória. ~ a propósito, uma moça no ônibus me disse "esse livro deve ser ótimo, porque você não para de rir". 

Mariana é aquela personagem que de início você não vai com a cara dela.
Pense na Elle Woods de Legalmente Loira. Pense quão fresca, egoísta, mimada, fútil...
A Mariana poderia ser uma Elle Woods, mas não é. Sim, é fresca, mimada, fútil, egoísta... Mas é pobre. Quer dizer, ela tem vida estável, mora com os pais e a irmã, num apartamento bem apertado, trabalha, fez faculdade... ela só não é cheia da grana o quanto ela queria. E te contar, ela queria até demais. Dizia que o destino era distraído e quando foi a época dela nascer, ela foi parar no interior de São Paulo, numa cidade chamada Presidente Prudente. Cadê a Europa?
~ Pobre não tem sorte.

Mas então, Mariana vai casar. Com o melhor partido daquela cidade, aquele que se poderia dizer BBB – nada de Big Brother Brasil – o Bom, Bonito e Besta: Edu. Ok, não tão besta. Ele só é um pouco avoado. E Leila Rego escreveu o prólogo descrevendo os momentos desesperados de Mariana antes de ir pra igreja... com Edu invadindo seu quarto dizendo que não queria mais casar.

Então somos levados por Mari contando sua história de vida e como ela queria ser rica, como ela era materialista, como queria arrasar e ser uma famosa socialite... e como tentava manter um status com o pouco que ganhava no seu trabalho, escondendo todo o lado humilde da família de viver. Praticamente empurrou o casamento... parecia que batalhava pra derrubar a sogra, a jararaca-de-perfume-francês, a jararaca-que-já-estava-me-dando-nos-nervos, a jararaca-que-só-anda-de-bolsa-de-grife, e não viver ao lado de seu amor Edu. E o casamento não acontece, Edu não estava preparado. Só ele?

Um conto ótimo sobre ter valores, ter amigos, levar tapa na cara e ainda sair sorrindo, porque pobre tem sorte... Só tem que descobrir como essa sorte trabalha e ter isso a seu favor. Mariana precisava de um tempo; dele que ela tirou umas ideias mirabolantes, situações constrangedoras e conhecer mais dela que ela nem notava mais por causa de suas ambições. Calma, Mari, tem salvação ~ tanto que existe Pobre Não Tem Sorte 2 e eu já estou doida pra saber o que ela aprontou na capital!

~> Difícil deixar um quote... difícil escolha:
Eu adoro viajar de avião, nasci para isso. Apesar de ainda não ter viajado.
Ouvi um risinho?
p. 51

~> Leila Rego nasceu no Paraná, é escritora e formada em Turismo.  

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Correntes que seguem... e se perdem no virtual

Começou no e-mail e encontrou um novo hospedeiro: redes sociais.


Nos blogs, tem uns interessantes, que se firmam nos memes com perguntas e comentários;
Nos orkuts - queda recente - tinha aquela faixa de atualização que não se apropriavam bem de correntes;
Nos twitters, não é bem a corrente que se encaixa, porque o sistema de posts é bem específico e o máximo que se consegue são RTs e Trending Topics; não necessariamente cria correntes, mas discussões em pequenos posts que levam a informação embora;
Nas sms (ver), uma tentativa fracassada que insiste ainda em aderir a esse espaço;
Nas contas de youtube, há casos pequenos e fracassados, que parecem ter desistido de tentar;
Nos facebooks, ah. As correntes chegaram no facebook. 
É tão in ter facebook, nível máximo de comunicação. Pra quê msn, twitter, forms (sim, ainda existe formspring, e muita gente usa, não pra brincar com os amigos), orkut (a "ralé" que todo mundo acha e que um dia teve) e sei lá quantos mais, se existe o facebook pra todas as suas necessidades comunicativas virtuais? - Pra derrubar esse tem que ser potente, porque o orkut durou uns 5 anos de auge.

Voltando à história principal, até corrente quer ir pro facebook. Não quer mais ficar limitado nos e-mails, e-mail não está satisfazendo seu potencial. Por que mesmo? Ah, porque o facebook é aberto, é inconveniente - sim, aposto que tem muita gente que se adiciona por conveniência, por aparências e pra aumentar popularidade... tem gente que se rende a isso - então conhecendo as correntes, elas tem um ponto de partida - quase nunca conhecido - e que se alastra pela rede sem controle. Parece o twitter, mas este ainda é mais fechado quanto a isso, acredito. E todo mural seu vai ter uma corrente, sutil ou cara-de-pau mesmo. 

E não tem como impedir. 

A gente espera a corrente do bem, quem sabe.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Acho que entendi o plano de Machado de Assis, em Dom Casmurro

Machado de Assis foi um cara muito esperto - e meio chato com umas intromissões.
Diferentemente de Memórias de Um Sargento de Milícias (de Manuel Antônio de Almeida), que parecia ter a mesma linha de narração, Dom Casmurro dessa vez fluiu em mim. Não sei dizer se foi sobre a pressão ou não. Mas tive pressão quanto àquela e nem assim o negócio decolou. Mas não falemos de fruição.

Digo que o cara foi esperto e acho que até tenho como provar.
As tramas dele parecem ser boas e bem construídas - por enquanto só li Dom Casmurro – o que me chateava era as intromissões, as conversas e umas estórias, que até podiam ter a ver com a situação, mas o jeito que ele colocava... num sei, me irritava. Tinha hora que me dava vontade de dizer “Cala boca e continua!”, senão, de dar um tabefe na cabeça dele pra pegar no tranco; em Bentinho, não exatamente Machado de Assis.
Machado até merece um bom aperto de mãos, porque o plano dele, ah, o plano dele foi genial.

Só falar em Bentinho e Capitu e... pronto: cada um que lê o livro tem que dar seu parecer da polêmica – Capitu traiu ou não traiu?
Comigo não foi assim, acho que a questão do livro não é bem essa aí. A questão, como já li por aí, é a dúvida. E bota dúvida cruel nisso! Quando eu lia a respeito, não entendia bem o que eles queriam dizer, mas agora... Foi golpe de mestre.
Pense bem. Por que a dúvida e não a polêmica? Não nego a polêmica, a polêmica é ramificação da dúvida, e esta que ficou um pouco camuflada talvez.

O Fato: a dúvida
Acredito que Machado de Assis não deixou as pistas certas – pronto, falei.
O que ele fez foi deixar as pistas erradas – parece redundante, mas não é – pistas estas que sempre nos levaria a um ponto específico, a escolha. É como se durante a narrativa nos encontrássemos em um corredor que de fim daria em duas portas. E como fomos parar nesse corredor? Pelas pistas erradas.
O que ele queria com isso, afinal? Poderia dizer muitas coisas, mas digo uma. Ele não queria que solucionássemos o caso, ele queria era ver TODO MUNDO matutando isso, te deixar maluco num loop infinito. E num acabou acontecendo mesmo?! Meus parabéns, cara, você conseguiu. A geral é ficar se debatendo se Capitu traiu ou não, como ela traiu, porque ela traiu... Me diz se não é verdade?
Posso ser principiante no assunto, mas será que estou falando de coisas tão desconexas assim?
Tudo sempre recai no que “parece ser”, no “se isso, se aquilo”... Parece a teoria do conhecimento de novo – “se isso for verdade...”, “se isso aconteceu...”; nunca saberemos. Nem se houvesse uma quebra ilógica e Machado de Assis voltasse pra contar o que teria acontecido. Eu não acreditaria, quer dizer. Porque quem me garantiria que seria a verdade? Por isso citei a teoria do conhecimento... não dá pra saber.

Ok, e cadê as pistas certas?
Ele as não deixou. Seria muito definitivo pra ele e esse não era o que ele queria, aparentemente.

Ramificação: a traição
Já que estamos aqui e isso é processo comum das pessoas matutarem a respeito de Bentinho e Capitu, eu entro no jogo: Capitu não traiu Bentinho.
Bentinho era tão egocêntrico que o ciúme arranjou uma nova morada e uma companhia, a obsessão. Tudo que acontece ele dá um jeito de transformar numa coisa ruim. Dá pra confiar num cara desses? Até que dá, vai saber. Mas sempre cair no mesmo lugar: a escolha. Você tem que escolher o que “parece” ser mais conveniente a esse buraco, porque é isso que leitor tende a fazer: conexões, deduções, suposições... preencher as lacunas.
O que alegam por aí é que a confirmação nunca virá porque a narração é em primeira pessoa, logo, confiar com toda a certeza nas palavras desse homem seria errado porque cada um tem sua interpretação. Justo. Concordo. O que é visto nos faz crer, achar, pensar, mas não saber; tudo questão de impressão. Não deve ser a toa que o livro é um romance psicológico - Machado soube aproveitar o momento.
Então, de todas as que Bentinho me contou, e de como contou, pra mim ele interpretara tudo errado, coisa dessa natureza dele de possessivo, obsessivo e egocêntrico (só eu lembrei da música do Jay Vaquer? Pode agradecer?), sempre desconfiado e bem imaginativo, qualquer coisa atiçava a mente dele, até “sonhar” com o Imperador ele fez essa proeza (lembrei do J.D. da série Scrubs em algumas passagens, muita imaginação em divagações); e Capitu, dissimulada às vezes sim, mas não quanto ao amor que tinha por ele. Na verdade, achei Capitu muito dedicada a ele. Acho que ela não queria era dar o braço a torcer, de determinada que ela era. Se ela traiu, bom, posso achar até motivo, mas não vejo como.
Então eu escolho “Capitu não traiu”, quando, na verdade, prefiro o “ela tanto pode ter traído quanto não traído, se for considerar tudo que descrevi”.

De fim, acho que o que Machado fez foi ter a ideia genial e depois só foi encaixando os outros pontos. Como ele fez isso? É o mesmo que perguntar pra Saramago como ele estruturou a ideia de Ensaio sobre a Cegueira. Criação literária é um negócio, viu. Melhor deve ser o processo ;)
Tem hora que é tão bom ser beleletrista.


~ Fiquei puto por não conseguir controlar seu pensamento...
Mas amei você
Pode agradecer... ~ Jay Vaquer - Pode Agradecer.