quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Gaveta de preciosidades


No nosso mais íntimo
atrás das meias e dos brincos
existe coisas inimagináveis

Na verdade imagináveis
pela mente perigosa
que precisa se encontrar para deixar de ser criminosa

Porque é crime esconder
é crime guardar
tanta preciosidade abafada 

Esperam e nos chamam
querem uma chance de respirar o ar
que não seja aquele preso com ele

Não se contentam com nossas visitas
mas ficam felizes do mesmo jeito
só a espera de mais um pulinho seu

E a cada um
te recebem com um sorriso
porque é você que vai ditar suas histórias

Não importa quanto tempo ele espere
ele espera
porque tempo é o que mais lhe resta

Isso não é um poema
- avulso - 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Contando um conto, Pobre Não Tem Sorte


Não tenho o costume de fazer resenha, mas parece que a Mariana (@marilouveira) tava me pedindo, porque a sensação que tive das linhas de Leila Rego (@LeilaRego) foi de “eu tenho que compartilhar com alguém”. Não é a toa que enquanto lia Pobre Não Tem Sorte, pensei em pelo menos três amigas para emprestar, com aquele ar de “você tem que ler esse livro!”.

A primeira vez que o vi foi em divulgação pela internet e o nome me chamou a atenção. Ficou no meu skoob, me dizendo ser um chicklit de muita comédia – comprovado e aprovado. ~ e foi por ele que conheci o grupo Novas Letras (@novasletras)... ganhei um sorteio deles, e além de ter ganhado o livro (autografado), ele chegou na semana do meu aniversário :D 
Brinquei com um amigo dizendo que “pobre não tinha sorte” porque o primeiro sorteio não saiu meu nome, mas por alguma razão fizeram um novo sorteio e cá estou compartilhando.  

Pobre Não Tem Sorte é o tipo de livro que, se você precisa fazer uma pausa daquele estresse e rir um pouco, ele te oferece mais que isso. Te prende a ponto de você se prometer ler mais uma página para fazer um break e ir fazer seu jantar, e você acaba lendo umas cinco a mais nessa brincadeira. E ainda enquanto faz o jantar fica rindo sozinha. Aí você volta pro livro e não se aguenta, ri que se acaba... 
Impossível não rir com a Mariana e como ela conta sua trajetória. ~ a propósito, uma moça no ônibus me disse "esse livro deve ser ótimo, porque você não para de rir". 

Mariana é aquela personagem que de início você não vai com a cara dela.
Pense na Elle Woods de Legalmente Loira. Pense quão fresca, egoísta, mimada, fútil...
A Mariana poderia ser uma Elle Woods, mas não é. Sim, é fresca, mimada, fútil, egoísta... Mas é pobre. Quer dizer, ela tem vida estável, mora com os pais e a irmã, num apartamento bem apertado, trabalha, fez faculdade... ela só não é cheia da grana o quanto ela queria. E te contar, ela queria até demais. Dizia que o destino era distraído e quando foi a época dela nascer, ela foi parar no interior de São Paulo, numa cidade chamada Presidente Prudente. Cadê a Europa?
~ Pobre não tem sorte.

Mas então, Mariana vai casar. Com o melhor partido daquela cidade, aquele que se poderia dizer BBB – nada de Big Brother Brasil – o Bom, Bonito e Besta: Edu. Ok, não tão besta. Ele só é um pouco avoado. E Leila Rego escreveu o prólogo descrevendo os momentos desesperados de Mariana antes de ir pra igreja... com Edu invadindo seu quarto dizendo que não queria mais casar.

Então somos levados por Mari contando sua história de vida e como ela queria ser rica, como ela era materialista, como queria arrasar e ser uma famosa socialite... e como tentava manter um status com o pouco que ganhava no seu trabalho, escondendo todo o lado humilde da família de viver. Praticamente empurrou o casamento... parecia que batalhava pra derrubar a sogra, a jararaca-de-perfume-francês, a jararaca-que-já-estava-me-dando-nos-nervos, a jararaca-que-só-anda-de-bolsa-de-grife, e não viver ao lado de seu amor Edu. E o casamento não acontece, Edu não estava preparado. Só ele?

Um conto ótimo sobre ter valores, ter amigos, levar tapa na cara e ainda sair sorrindo, porque pobre tem sorte... Só tem que descobrir como essa sorte trabalha e ter isso a seu favor. Mariana precisava de um tempo; dele que ela tirou umas ideias mirabolantes, situações constrangedoras e conhecer mais dela que ela nem notava mais por causa de suas ambições. Calma, Mari, tem salvação ~ tanto que existe Pobre Não Tem Sorte 2 e eu já estou doida pra saber o que ela aprontou na capital!

~> Difícil deixar um quote... difícil escolha:
Eu adoro viajar de avião, nasci para isso. Apesar de ainda não ter viajado.
Ouvi um risinho?
p. 51

~> Leila Rego nasceu no Paraná, é escritora e formada em Turismo.  

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Correntes que seguem... e se perdem no virtual

Começou no e-mail e encontrou um novo hospedeiro: redes sociais.


Nos blogs, tem uns interessantes, que se firmam nos memes com perguntas e comentários;
Nos orkuts - queda recente - tinha aquela faixa de atualização que não se apropriavam bem de correntes;
Nos twitters, não é bem a corrente que se encaixa, porque o sistema de posts é bem específico e o máximo que se consegue são RTs e Trending Topics; não necessariamente cria correntes, mas discussões em pequenos posts que levam a informação embora;
Nas sms (ver), uma tentativa fracassada que insiste ainda em aderir a esse espaço;
Nas contas de youtube, há casos pequenos e fracassados, que parecem ter desistido de tentar;
Nos facebooks, ah. As correntes chegaram no facebook. 
É tão in ter facebook, nível máximo de comunicação. Pra quê msn, twitter, forms (sim, ainda existe formspring, e muita gente usa, não pra brincar com os amigos), orkut (a "ralé" que todo mundo acha e que um dia teve) e sei lá quantos mais, se existe o facebook pra todas as suas necessidades comunicativas virtuais? - Pra derrubar esse tem que ser potente, porque o orkut durou uns 5 anos de auge.

Voltando à história principal, até corrente quer ir pro facebook. Não quer mais ficar limitado nos e-mails, e-mail não está satisfazendo seu potencial. Por que mesmo? Ah, porque o facebook é aberto, é inconveniente - sim, aposto que tem muita gente que se adiciona por conveniência, por aparências e pra aumentar popularidade... tem gente que se rende a isso - então conhecendo as correntes, elas tem um ponto de partida - quase nunca conhecido - e que se alastra pela rede sem controle. Parece o twitter, mas este ainda é mais fechado quanto a isso, acredito. E todo mural seu vai ter uma corrente, sutil ou cara-de-pau mesmo. 

E não tem como impedir. 

A gente espera a corrente do bem, quem sabe.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Acho que entendi o plano de Machado de Assis, em Dom Casmurro

Machado de Assis foi um cara muito esperto - e meio chato com umas intromissões.
Diferentemente de Memórias de Um Sargento de Milícias (de Manuel Antônio de Almeida), que parecia ter a mesma linha de narração, Dom Casmurro dessa vez fluiu em mim. Não sei dizer se foi sobre a pressão ou não. Mas tive pressão quanto àquela e nem assim o negócio decolou. Mas não falemos de fruição.

Digo que o cara foi esperto e acho que até tenho como provar.
As tramas dele parecem ser boas e bem construídas - por enquanto só li Dom Casmurro – o que me chateava era as intromissões, as conversas e umas estórias, que até podiam ter a ver com a situação, mas o jeito que ele colocava... num sei, me irritava. Tinha hora que me dava vontade de dizer “Cala boca e continua!”, senão, de dar um tabefe na cabeça dele pra pegar no tranco; em Bentinho, não exatamente Machado de Assis.
Machado até merece um bom aperto de mãos, porque o plano dele, ah, o plano dele foi genial.

Só falar em Bentinho e Capitu e... pronto: cada um que lê o livro tem que dar seu parecer da polêmica – Capitu traiu ou não traiu?
Comigo não foi assim, acho que a questão do livro não é bem essa aí. A questão, como já li por aí, é a dúvida. E bota dúvida cruel nisso! Quando eu lia a respeito, não entendia bem o que eles queriam dizer, mas agora... Foi golpe de mestre.
Pense bem. Por que a dúvida e não a polêmica? Não nego a polêmica, a polêmica é ramificação da dúvida, e esta que ficou um pouco camuflada talvez.

O Fato: a dúvida
Acredito que Machado de Assis não deixou as pistas certas – pronto, falei.
O que ele fez foi deixar as pistas erradas – parece redundante, mas não é – pistas estas que sempre nos levaria a um ponto específico, a escolha. É como se durante a narrativa nos encontrássemos em um corredor que de fim daria em duas portas. E como fomos parar nesse corredor? Pelas pistas erradas.
O que ele queria com isso, afinal? Poderia dizer muitas coisas, mas digo uma. Ele não queria que solucionássemos o caso, ele queria era ver TODO MUNDO matutando isso, te deixar maluco num loop infinito. E num acabou acontecendo mesmo?! Meus parabéns, cara, você conseguiu. A geral é ficar se debatendo se Capitu traiu ou não, como ela traiu, porque ela traiu... Me diz se não é verdade?
Posso ser principiante no assunto, mas será que estou falando de coisas tão desconexas assim?
Tudo sempre recai no que “parece ser”, no “se isso, se aquilo”... Parece a teoria do conhecimento de novo – “se isso for verdade...”, “se isso aconteceu...”; nunca saberemos. Nem se houvesse uma quebra ilógica e Machado de Assis voltasse pra contar o que teria acontecido. Eu não acreditaria, quer dizer. Porque quem me garantiria que seria a verdade? Por isso citei a teoria do conhecimento... não dá pra saber.

Ok, e cadê as pistas certas?
Ele as não deixou. Seria muito definitivo pra ele e esse não era o que ele queria, aparentemente.

Ramificação: a traição
Já que estamos aqui e isso é processo comum das pessoas matutarem a respeito de Bentinho e Capitu, eu entro no jogo: Capitu não traiu Bentinho.
Bentinho era tão egocêntrico que o ciúme arranjou uma nova morada e uma companhia, a obsessão. Tudo que acontece ele dá um jeito de transformar numa coisa ruim. Dá pra confiar num cara desses? Até que dá, vai saber. Mas sempre cair no mesmo lugar: a escolha. Você tem que escolher o que “parece” ser mais conveniente a esse buraco, porque é isso que leitor tende a fazer: conexões, deduções, suposições... preencher as lacunas.
O que alegam por aí é que a confirmação nunca virá porque a narração é em primeira pessoa, logo, confiar com toda a certeza nas palavras desse homem seria errado porque cada um tem sua interpretação. Justo. Concordo. O que é visto nos faz crer, achar, pensar, mas não saber; tudo questão de impressão. Não deve ser a toa que o livro é um romance psicológico - Machado soube aproveitar o momento.
Então, de todas as que Bentinho me contou, e de como contou, pra mim ele interpretara tudo errado, coisa dessa natureza dele de possessivo, obsessivo e egocêntrico (só eu lembrei da música do Jay Vaquer? Pode agradecer?), sempre desconfiado e bem imaginativo, qualquer coisa atiçava a mente dele, até “sonhar” com o Imperador ele fez essa proeza (lembrei do J.D. da série Scrubs em algumas passagens, muita imaginação em divagações); e Capitu, dissimulada às vezes sim, mas não quanto ao amor que tinha por ele. Na verdade, achei Capitu muito dedicada a ele. Acho que ela não queria era dar o braço a torcer, de determinada que ela era. Se ela traiu, bom, posso achar até motivo, mas não vejo como.
Então eu escolho “Capitu não traiu”, quando, na verdade, prefiro o “ela tanto pode ter traído quanto não traído, se for considerar tudo que descrevi”.

De fim, acho que o que Machado fez foi ter a ideia genial e depois só foi encaixando os outros pontos. Como ele fez isso? É o mesmo que perguntar pra Saramago como ele estruturou a ideia de Ensaio sobre a Cegueira. Criação literária é um negócio, viu. Melhor deve ser o processo ;)
Tem hora que é tão bom ser beleletrista.


~ Fiquei puto por não conseguir controlar seu pensamento...
Mas amei você
Pode agradecer... ~ Jay Vaquer - Pode Agradecer.