segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Mais um episódio de epifania - Curtacontos: Pensando longe

Depois de muitos estudos, uma hora a gente começa a refletir. Estava eu olhando mais uma matéria sobre curtacontos  - microcontos, minicontos, nanocontos... que nome você prefira - quando acabei me deixando levar sobre essa questão de forma limitada: Seriam os curtacontos um modo renovado de parnasianismo????

Muita viagem, eu sei, mas faz sentido. Me diz se não faz:

Curtacontos são, como o próprio nome diz, contos pequenos. São criados e postados no espaço cibernético, adaptados a uma forma preestabelecida pela rede que tanto o tem divulgado – é uma atividade ainda recente, mas que aos poucos tem crescido. Feito por qualquer pessoa, a ideia é de se fazer uma síntese em até 140 caracteres, de qualquer tema que queira, utilizando-se de elementos da língua para expressar algo. 

Onde o Parnasiano entra nessa história?

Parnasiano, como bem alguns lembram nos tempos de escola, foi uma tendência de escrita poética que prezava pela forma fixa. De maioria, era como se quisessem pegar um fato e moldá-lo em uma pintura real, descrevendo minuciosamente o que o autor tinha em mente – acho que por isso que a maioria parecia ser uma cena fragmentada de um filme, como uma foto mesmo ou pintura. Tendo isso em primeira vista, eles partiam para outras características, como as rimas e ritmo que marcariam suas linhas.

E a arte pela arte?
Essa é a pegadinha, mais uma “mentirinha” contada pela escola: Parnasianos só começaram a ser puristas depois de muito tempo... se for verificar essa história, percebe-se que as obras tiveram muitas edições, em que os autores tentavam se consertar para primar a língua formal. Mas vai ver as primeiras edições, as que consagraram muitos autores por aí, elas sim traziam o parnasiano nascente que eles tanto achavam glorioso. A ideia simplesmente era de ter forma fixa e ter rimas perfeitas, as regras gramaticais que se conformassem.
Então veio um gênio e quis “obedecer” essas regras, fechando cada vez mais o clubezinho deles de cultos e eruditos com palavras rebuscadas e o que tivesse direito. Muitas das poesias que eles não conseguiram adaptar a esse novo ideal ficaram pra trás só porque não se deram bem com as mudanças. Talvez a escola tenha inventado essa “mentira” (omissão?) de purismo poético pra evitar a confusão com as edições, porque o que deve ter de poesia duplicada, triplicada ou jogada fora, eu não saberia dizer.

Enfim, o que eu quero dizer com isso...
Se o curtaconto tem a forma fixa de 140 caracteres e normalmente confere de o autor encaixar sua ideia nela, seria ou não essa síntese um novo parnasianismo, um parnasianismo-não-purista-não-exatamente-poético?

Quer dizer, não que seja propriamente, mas, sei lá, é a forma querendo brilhar de novo, já que o que ultimamente a Literatura tem brincado mais com o conteúdo? Pense um pouco.

-- Cada vez mais vejo essa coisa de literatura cíclica --

domingo, 27 de novembro de 2011

Leitura e Spoilers: Posso contar? Parte II

Parte I

As releituras


Se vamos reler alguma coisa é porque gostamos da primeira vez, logo sabemos tudo o que vai acontecer e como vai acontecer... entretanto, vendo por esse lado, o interessante é saber usar esse conhecimento, seja para encontrar um ponto passado despercebido, seja para curtir novamente aquilo que você gostou e quer ver novamente. Sendo então a releitura prazerosa, você acaba por se concentrar nos detalhes.
A mesma coisa acontece com os spoilers, essa é sua proposta. Eles não estragam leituras, eles podem aumentar a satisfação e o interesse do leitor, pois são auxiliares de leitura.

Leitores, fiquem calmos...
Quem interfere na história é você, não o spoiler. Você ainda tem seu espaço, ainda pode passar por todas as etapas. O spoiler é apenas uma informação, que não tem capacidade de destruir um enredo, só vai lhe ajudar a perceber mais os detalhes que em sua leitura rápida e ansiosa você deixou passar batido. Por isso dizem que a cada releitura "descobrimos" algo novo no texto. Tudo está lá descrito para lhe dar o prazer de ler.

“Na releitura o leitor vai ler mais devagar e nem por isso de forma menos prazerosa (...) o leitor pode rastrear as pistas que o autor foi lançando aqui e ali no romance e ele não percebeu.” (CARNEIRO, 2010)

E como fica o papel do leitor nessa confusão toda?
Quer que eu seja mais redundante? Ok.

- Ainda é dele e não tem que lhe tire isso. O texto quando lido, está incompleto: o leitor se utiliza dos espaços em branco, do não-dito, do vazio... que lhe é reservado, para construir um entendimento, passando pelas etapas que o texto lhe levará. Não se espera que apenas o leitor esteja preparado para interpretar, mas o texto dá um jeito de o preparar, ajudando-o a construir de acordo com as pistas que cede. Ou seja, ocorre uma dialética cooperativa entre o leitor e o autor dentro do texto.
Dessa relação, usufruindo do prazer estético (participação no texto), da fruição de leitura (encontro de expectativas entre leitor e autor) e da catarse (o emocional ativado), tendo ou não um spoiler, o texto vai garantir, por questões linguísticas ou extralinguísticas, a participação do leitor. E ainda que se saibam coisas ou o fim da história antes de ler, o melhor é saber como tudo isso se construiu; só o livro pode lhes dizer isso.

OBS: Aí que me replicaram - "acho que essa questão é de gosto"
É possível, não nego, a pesquisa ainda não é grande o bastante, mas já deixa as pessoas pensando. 
No entanto, acredito que os leitores frustrados - não sou uma - ainda não perceberam que essa sua frustração é uma reação que mesmo sem spoiler o leitor a teria. Se a mocinha morre, se o vilão ganha, se você se engana, se espanta... o que for, é apenas uma resposta antecipada, que possivelmente a história já deu a entender e nada de você querer sacar. 
Mas o melhor, ainda acredito, é como a diegese (aquela lógica corrente, seja na seleção de palavras, seja na seleção de imagens) vai te convencer. Como disse questionei anteriormente, "afinal, o que é mais importante, a jornada ou o destino?".

Por enquanto, é só mais uma teoria.

K. S. Ribeiro - Graduanda do curso de Letras (UEMA)

REFERÊNCIAS:

CARNEIRO, Flávio. O Leitor Fingido: ensaios. Rio de Janeiro: Rocco, 2010.

DANIEL, Sandra. Estudo mostra que spoilers não estragam a história. Estrada Literária – Clube de Leitura. Disponível em: http://www.estradaliteraria.com.br/. Acesso em: Novembro, 2011.

EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. Tradução Waltensir Dutra. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

ECO, Umberto. Lector in fábula – La cooperación interpretativa en el texto narrativo. Traducción de Ricardo Pochtar. 3ª ed. Barcelona: Editorial Lumen, 1993.

FLORY, Suely Fadul Villibor. O leitor e o labirinto. São Paulo: Arte & Ciência, 1997.

ICULT GENERATION. Disponível em: http://www.icultgen.com.br/. Acesso em: Novembro, 2011.

KIDERRA, Inga. Spoiler Alert: Stories Are Not Spoiled by 'Spoilers'Disponível em:
http://ucsdnews.ucsd.edu/newsrel/soc/. Acesso em: Novembro, 2011.

PERIN, Thiago. Saber de spoilers faz você gostar mais da história. Superinteressante. Disponível em: http://super.abril.com.br/blogs/cienciamaluca/. Acesso em Outubro, 2011.

Leitura e Spoilers: Posso contar? Parte I


Afinal, o que é mais importante, a jornada ou o destino? (Estrada Literária - Clube de Leitura)

Um caso em particular do processo de leitura é o seu encontro com spoilers.
Falar de spoilers implica polêmica, pois acredita-se que são "estraga-prazeres", em que o leitor se sente ameaçado com tal presença. Ameaçado como? Acha que isso vai afetar sua fruição.
Fato ou senso comum?

Busquei um pouco de teoria da recepção - aquela parte da crítica que foca o papel do leitor - para verificar o caso e uni com uma pesquisa de Psicologia feita na Califórnia.

Antes disso, o que são spoilers mesmo?
- Ah, são aqueles pontos de estória "indesejados", com trechos, resumos, fatos, que contêm revelações de uma trama, que se diz prejudicar a fruição daquele que lê ou assiste algo pela primeira vez. 
Vindo do inglês (to spoil), significa "aquele que estraga", "aquele que destrói", e, adaptado ao português, encontra-se como "estraga-prazeres". Muita depreciação só no nome, não?


Onde encontramos?
- Diversas mídias; porém, as mais procuradas são as virtuais: sites informativos, fóruns e blogs, que indiquem aos leitores e telespectadores sobre as tramas que tanto lhe deixam curiosos. São geralmente marcados por imagens de alertas ou escritos antes da matéria, avisando o conteúdo "indiscreto":


Pra que tanto alarde? 
A pergunta, na verdade, quer dizer: como isso reflete no leitor?

Há leitores que não se intimidam com essa presença ou conhecimento, são indiferentes... quando não, buscam por essas informações, sabendo trabalhar com elas em suas leituras, pois não se importam ou acreditam que uma informação dessa possa lhes interferir. Entretanto, existe o outro tipo de leitor, que demonstra sua profunda indignação, frustrado por não conseguir lidar bem com essa presença. Abominam de tudo que é jeito:

É dar muita pretensão aos spoilers, não?

Mas por que tanta abominação?
- Os leitores que se sentem ameaçados se afastam dessas informações por acharem que o spoiler é aquele que vai tirar seu papel, como se dessem tudo de "mão beijada". Relatos falam da "quebra de encanto", que não sobra espaço para que ele mesmo possa "especular, deduzir fatos, formular hipóteses, construir relações, preencher lacunas, comprovar suposições"... Sendo seu maior desejo fazer isso ante uma obra, dizem que o spoiler, por ter informações valiosas, não o deixaria passar por todas essas etapas. Será?

“Histórias não são estragadas pelos spoilers” (Stories Are Not Spoiled by ‘Spoilers’)

Recentemente foi feito um estudo na Universidade da Califórnia (San Diego, EUA) pelo Departamento de Psicologia, liderado por Nicholas Christenfeld e Jonatha Leavitt, cujo tema era a presença de spoilers em narrativas. Foram selecionados 12 contos: 4 irônico-humoristas, 4 de mistério e outros 4 literários. 
Havia três versões de cada – uma normal sem spoiler, outra com um parágrafo inicial que resumia o enredo e revelava detalhes importantes da trama, e ainda outra com esse mesmo texto, só que inserido no meio da narrativa. Entre as obras, foram selecionados esses autores: John Updike, Roald Dahl, Agatha Christie, Anton Chekhov e Raymond Carver.

As três versões de cada história foram lidas por pelo menos 30 pessoas e a taxa de hedonismo – ou o índice de felicidade/fruição – obtida com o conto, calculada.

Constatações da pesquisa:

- Os leitores preferiram as versões com spoilers no parágrafo original, mesmo nas estórias com viradas de enredo e aquelas de mistério. Pela tabela - coluna preta para aquelas com spoilers, coluna branca para aquela sem spoilers - só houve um caso em que a coluna branca passou da preta e ainda assim, por muito pouco. 
- Para os pesquisadores, o enredo seria quase irrelevante - como um pretexto - sendo o importante a forma como tudo é contado, além de que isso de alguma forma simplificava a história, tornando-a "cognitivamente" confortável de entender. Daí eles ainda puxaram outro gancho: as releituras.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A poesia não morreu - uma epifania



Pra quem não é a melhor fã de poesia, até que pensei muito nessa história.

“♪ A memória desvendou
E a história se escreveu
Em fábulas se fez
E nasceu era uma vez...

Entre monstros e dragões
Aventuras e paixões
Dizem sempre a verdade
Ideal de realidade ♫”

Banda Veja - Heroi


Lá das épocas dos castelos, dos guerreiros, dos bobos da corte, de princesas e príncipes, reis e rainhas... surgiu a poesia em forma de trovas. Também chamadas de cantigas, eram poesias de composições simples acompanhadas por uma trilha musical que, além de facilitar a memorização, contavam pequenas histórias de amores idealizados, amizade e saudade sem esquecer também das críticas aos costumes em cantigas de mal-dizer.
Predominando o oral, aos poucos foram sendo escritas. De língua portuguesa, até sua independência, se misturava ao galego. Também existia a prosa... Novelas de cavalaria eram narrativas orais passadas de regiões em regiões, gerações a gerações, em encontros para contar lendas e aventuras heróicas.

“♪ Seja como for
Real ou invenção
O que vale é fazer
O que faz bem a você

Seja como for
Real ou invenção
Melhor acreditar e seguir a direção... ♫”

Banda Veja - Heroi


Correndo pelo tempo, perdeu a companhia musical e foi se escrevendo nos papeis que encontrou. Exaltou, brilhou, cresceu, espaireceu, sumiu e fundiu. Tantas foram as preocupações com métrica, com rima, com ritmo, com vocábulos... temas. Chegou ao século XIX perdida pelo avanço da prosa, exigiu seu posto de volta em “parnaso” e de simbolistas, clamaram ainda pela musicalidade. Da virada pro Modernismo, “formas e conteúdo, pra quê, né?” Poesia era leve, livre e solta.

“♪ Sinceramente, você pode se abrir comigo
Honestamente, eu só quero te dizer ♫”

Cachorro Grande - Sinceramente

De lá pra cá, quantos livros de poesia vemos nas vitrines? Até outro dia eu diria que não tem... mas pensando bem, tem sim. Tantos livretos de poesia das quais passamos e olhamos: CDs e DVDs de música

“♪ E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu ♫”

Pitty – Na sua estante
.
É isso, a poesia retomou a música, a literatura retoma seu ciclo. Não tão publicada em livros, a poesia resolveu se misturar aos mil ritmos que a música lhe oferece, ora preocupada com a forma e rimas, ora preocupada com o conteúdo. Mas ainda, poesia.

“♪ Eu sei que lá no fundo
Há tanta beleza no mundo
Eu só queria enxergar
As tardes de domingo
O dia me sorrindo
Eu só queria enxergar ♫”

Pitty – Se o mundo acabar hoje

“♪Por todas as contas, por todos os objetos
Essa é a tendência, isso é viver
Por mais coerência, mais acertos, muito mais alvos
Muito mais cor ♫”

Dead Fish - Você

O 'poema' pode ter caído, mas a 'poesia' ainda está aí.

“♪ Nesse quarto escuro
Existe um menino assustado
Ele é sozinho
E teme que o mundo encontre o seu cantinho ♫”

Sandy Leah - Esconderijo

sábado, 5 de novembro de 2011

Nada

Bem aqui, na ponta de meus dedos, só falta digitar um âmago que... não quer ser digitado.
Querendo um momento poético e nada até agora.
Nada. Nada.
Sei que tem algo preso - quer se manter preso.

Na espera...
Frustrada.
E nada.