domingo, 27 de novembro de 2011

Leitura e Spoilers: Posso contar? Parte I


Afinal, o que é mais importante, a jornada ou o destino? (Estrada Literária - Clube de Leitura)

Um caso em particular do processo de leitura é o seu encontro com spoilers.
Falar de spoilers implica polêmica, pois acredita-se que são "estraga-prazeres", em que o leitor se sente ameaçado com tal presença. Ameaçado como? Acha que isso vai afetar sua fruição.
Fato ou senso comum?

Busquei um pouco de teoria da recepção - aquela parte da crítica que foca o papel do leitor - para verificar o caso e uni com uma pesquisa de Psicologia feita na Califórnia.

Antes disso, o que são spoilers mesmo?
- Ah, são aqueles pontos de estória "indesejados", com trechos, resumos, fatos, que contêm revelações de uma trama, que se diz prejudicar a fruição daquele que lê ou assiste algo pela primeira vez. 
Vindo do inglês (to spoil), significa "aquele que estraga", "aquele que destrói", e, adaptado ao português, encontra-se como "estraga-prazeres". Muita depreciação só no nome, não?


Onde encontramos?
- Diversas mídias; porém, as mais procuradas são as virtuais: sites informativos, fóruns e blogs, que indiquem aos leitores e telespectadores sobre as tramas que tanto lhe deixam curiosos. São geralmente marcados por imagens de alertas ou escritos antes da matéria, avisando o conteúdo "indiscreto":


Pra que tanto alarde? 
A pergunta, na verdade, quer dizer: como isso reflete no leitor?

Há leitores que não se intimidam com essa presença ou conhecimento, são indiferentes... quando não, buscam por essas informações, sabendo trabalhar com elas em suas leituras, pois não se importam ou acreditam que uma informação dessa possa lhes interferir. Entretanto, existe o outro tipo de leitor, que demonstra sua profunda indignação, frustrado por não conseguir lidar bem com essa presença. Abominam de tudo que é jeito:

É dar muita pretensão aos spoilers, não?

Mas por que tanta abominação?
- Os leitores que se sentem ameaçados se afastam dessas informações por acharem que o spoiler é aquele que vai tirar seu papel, como se dessem tudo de "mão beijada". Relatos falam da "quebra de encanto", que não sobra espaço para que ele mesmo possa "especular, deduzir fatos, formular hipóteses, construir relações, preencher lacunas, comprovar suposições"... Sendo seu maior desejo fazer isso ante uma obra, dizem que o spoiler, por ter informações valiosas, não o deixaria passar por todas essas etapas. Será?

“Histórias não são estragadas pelos spoilers” (Stories Are Not Spoiled by ‘Spoilers’)

Recentemente foi feito um estudo na Universidade da Califórnia (San Diego, EUA) pelo Departamento de Psicologia, liderado por Nicholas Christenfeld e Jonatha Leavitt, cujo tema era a presença de spoilers em narrativas. Foram selecionados 12 contos: 4 irônico-humoristas, 4 de mistério e outros 4 literários. 
Havia três versões de cada – uma normal sem spoiler, outra com um parágrafo inicial que resumia o enredo e revelava detalhes importantes da trama, e ainda outra com esse mesmo texto, só que inserido no meio da narrativa. Entre as obras, foram selecionados esses autores: John Updike, Roald Dahl, Agatha Christie, Anton Chekhov e Raymond Carver.

As três versões de cada história foram lidas por pelo menos 30 pessoas e a taxa de hedonismo – ou o índice de felicidade/fruição – obtida com o conto, calculada.

Constatações da pesquisa:

- Os leitores preferiram as versões com spoilers no parágrafo original, mesmo nas estórias com viradas de enredo e aquelas de mistério. Pela tabela - coluna preta para aquelas com spoilers, coluna branca para aquela sem spoilers - só houve um caso em que a coluna branca passou da preta e ainda assim, por muito pouco. 
- Para os pesquisadores, o enredo seria quase irrelevante - como um pretexto - sendo o importante a forma como tudo é contado, além de que isso de alguma forma simplificava a história, tornando-a "cognitivamente" confortável de entender. Daí eles ainda puxaram outro gancho: as releituras.

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