sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Cartas que vão e não voltam



Como pergaminhos enrolados em fundos de garrafas que flutuam em águas conhecidas e desconhecidas, palavras viajam em papéis de cartas e no virtual de um sistema, esperando serem lidas, e quem sabe, atendidas. Deixadas ao vento como jornais que se desprendem da banca e voam sem destino, bilhetes perdidos que caem no chão, andam naquele não-sei-pra-onde à espera daquele destinatário que talvez possa responder. E são lidos; às vezes, respondidos. Mas não por aquele que a carta destinou. 
Toca e emociona pessoas, encontra admiradores, encantados pelas suas breves palavras simples e complexas, carregadas de sabe-se-lá quantas emoções, só pra compartilhar aquilo que estava querendo ser escrito. Dizem pouco, dizem muito, dizem e só dizem - jogados aos mensageiros, e param em algum canto do mundo, condenados ao intransitivo do dizer.
Pedidos, conselhos, arrependimentos; alegrias, fantasias e um pouco mais de outra coisa. Elas vão; cartas saem do seu remetente. Em alguma caixa de correio há de cair, em alguma terra há de ficar - pensa em esperança quem as escreve.
Mas não voltam.

Ainda tem aquele que checa a caixa de entrada todo dia, pergunta pro carteiro quando passa e aqueles que vigiam a porta na espera de algo passar debaixo dela. Nada como a expectativa de uma resposta, aquela desejada para acalmar a frustração que por vezes lhe acompanha. "Quem sabe algum dia" é a expressão do esperançoso à vista do sonhado dia.
Talvez voltem a sua origem, carregando estórias não escritas, estórias de lugares que visitou de alguma forma, de mãos de pessoas que chegaram a tocar-lhe - mais umas perdidas na história de um longo passeio, percebidas em manchas, rabiscos, riscos e dobras. 

- Esqueço daquelas guardadas na gaveta. Um dia haverão de ter suas próprias aventuras, mesmo que venham a cair em um lixo. Já seria um começo; mesmo dali, há chance de encontrar seu leitor. Só têm que arrumar um jeito de sair...- 

Não tenho destinatário, espero de minhas palavras apenas um quem-sabe despertar de estórias como já vi muitas cartas fazerem. Eu fui despertada... um tempo depois.


~ Mas eu não tenho pressa, já não tenho pressa... ~ Pitty - Déjà-vu

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