quinta-feira, 29 de março de 2012

O ponto que a humanidade chega...

Ela, a jovem senhora pediu parada para o próximo ponto de ônibus, mas arriscou em um grito, que ultrapassava a conveniência da situação, requiriu ao motorista que não esperasse chegar à próxima parada, que parasse ali mesmo onde passava o transporte coletivo no seu ritmo próprio. Ele, seu moço motorista cansado, respondeu que até o faria se não fosse o guarda de trânsito mais a frente, que notificaria o comportamento do homem que dirige o transporte por imprudência quanto a parar em um lugar que não está destinado a paradas, além propriamente de estar na faixa do meio da pista, que atrapalharia vários carros e quem sabe o que mais poderia acontecer. Ele foi gentil, não parou, porém se justificou. Ela resmungou, praguejou e ironizou. A jovem senhora fechara a cara.

Se o motorista aceitasse sua proposta, ela poderia até caminhar menos, chegaria quem sabe na hora se estivesse atrasada, mas o outro (ou os outros) que deixaria para trás, ela não pensa no problema que lhes traria... Seus pés poderiam estar doendo pelo cansaço da vida, os ossos gritando para cessar a caminhada, ela só pensava nisso? E o motorista, a marcação do ônibus pelo guarda, a cobradora naquele começo de tarde, enfadigados de fome, com a bunda já no formato da poltrona em que trabalham, que procuram mil posições para facilitar a corrida de sangue em suas veias para não ficar numa mesma e sentir as dormências do ofício? Isso sem falar de todos os outros veículos que estavam vindo atrás... e se houvesse algum desatento, um imprudente, um nervoso, que batesse em outro ou mesmo no ônibus, por ele ter parado ali onde ela pedira, no meio da pista? A jovem senhora talvez não agradecesse o favor, sairia com seus pensamentos, seguiria seu caminho e todos que ficaram atrás, na merda. Capaz dela mesma inferir como o trânsito é perigoso, que as pessoas não sabem respeitar quem passa, que ninguém pensa em ajudar o outro. Hipocrisia? Não, isso não passaria por sua cabeça...

A jovem senhora, então, passa o restante do caminho, de onde exigiu a parada à parada oficial, ponto de ônibus onde muitos outros esperavam pelo transporte, reclamando em voz elevada a chamar a atenção dos passageiros como se tentasse os convencer de seu ponto, que lhe ajudassem a gritar com o motorista, até mesmo xingar, como muitos fazem quando estes passam de uma parada ou fecham as portas antes de todos saírem. O motorista respondeu, repetiu na verdade, seus motivos. Ela, não quis saber. Tinha "opiniões" bem "formadas" e não estava gostando do tratamento que estava levando. Para o moço, com o pouco de paciência que lhe restava, resmungou um pouco ainda. Pensava de quem melhor merecia o "obrigado", da sociedade por seguir seus preceitos, ou da jovem senhora no pedido inusitado.  

Os passageiros não se meteram. Alguns riram, fizeram cara de desentendidos, viraram a cara, ouviam suas músicas, ouviam seus pensamentos e só. Tampouco a cobradora, ela apenas pediu compreensão à jovem senhora, que seu pedido não teria como ser atendido. Sem graça pela ignorância da mesma, a cobradora se calou, enquanto o motorista ia parando onde, em seu ofício, estava correto, onde pelo pedido inicial de parada, ele deveria estacionar. 

Ela desceu. 
Desceu dizendo "não é a toa que 'alguns' motoristas são roubados" e que "acontecem coisas com eles e eles não sabem o porquê". A cobradora deu de ombros, sem ter o que retrucar, para não dar margem a mais discussão. O motorista tentou retrucar, mas já não era ouvido. E uma passageira, que conseguiu acompanhar esses poucos minutos críticos, viu tudo isso descrito, não pensando numa ironia maior, proferida pela jovem senhora. A passageira também não poderia apaziguar a situação, nem se meter na história. Restou-lhe apenas rir um riso baixo de quase indignação, uma troca de olhar com a cobradora perto dela, diálogo mudo de "o que não se vê nessa sociedade", meio resignada por essa humanidade tão cheia de si, razões pretensiosas que esquecem de todo um resto que compõe o mundo, mas crente que existem algumas pessoas que ainda carregam o pouco do pó da esperança.

É, né?

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