sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Palavras legítimas e os outros – a paranoia

Entre muitas leituras e discussões, de frases e frases soltas por aí, alguma vez ante um livro você já se perguntou se, aquilo que foi lido, era legítimo do autor?

[Trechos aleatórios]
“Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.” – Quincas Borba, M. de Assis.

“Quanto a mim, só me livro de ser apenas um acaso do destino porque escrevo, o que é um ato que é um fato.” – A Hora da Estrela, Clarice Lispector.

“Foi preciso que eu fracassasse como pianista para que o escritor que morava dentro de mim aparecesse.” Se eu pudesse viver minha vida novamente..., Rubem Alves.

“E tenho que ser lógica para entender minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto.” – Divã, Martha Medeiros.

Grande é nossa admiração pelos autores e escritores em geral. Falam cada coisa que parece que direciona pra a gente, que conclui aquilo que você mesmo não conseguiu colocar em belo arranjo textual, que pinta toda a cena que não conseguimos descrever.

Mas... e se não foi ele?

Wait, what?

Yeah, hora da paranoia.
Não dá pra saber se foi o autor que, no seu momento único do fluir da escrita, escreveu aquilo que tanto se repete, se faz referência e se credita. Palavras legítimas?


Quando se trata de uma produção editorial, o livro “manuscrito” chega de um jeito, fechado pelo escritor, e sai de outro, fechado pelo grupo editorial. Do longo processo, passa de mãos em mãos, é analisado bonitinho, detalhado ao máximo desde a capa ao último ponto final da história. E dentre essas análises, um errinho aqui, uma incoerência acolá, “fica melhor desse jeito”, “o que você acha disso assim?”, “essa colocação ficou estranha”, “tá faltando clareza”, “especifique mais”, “não combinou”, “não sei o que tá faltando nessa sentença”, “procura um sinônimo”; “isso não fez sentido”, “corta isso”... Isto é, sintetizar em meras páginas o que se quer dizer requer revisão, cortes e recortes. 
É o famoso “inscrever e apagar”.
- Se você faz isso pra entregar um simples trabalho valendo aquela linda nota, imagine um livro que vá “rodar” o país e, que, quem sabe vá conquistar o mundo lá fora.

Não basta ter uma inspiração para escrever, é preciso muito suor para chegar aonde se quer chegar. Assim, poucos pensam, percebem ou imaginam o quanto o escritor teve que crescer em questão de escrita e expressão de si a tal ponto de não vermos todo o trabalho que ele teve com o livro. Da mesma forma que não sabemos dos bastidores daquela peça legal e os ensaios, que, para a produção, às vezes parecem ser mais gratificantes que a própria estreia.

Pra mim existe então uma história inicial, uma história de produção e a história propagada. É exigência do ofício.

Os outros
Costumamos creditar ou escolher uma figura de referência a algo que gostamos, reunimos o todo num só que não complique [metonímia?]. Mas quem está por trás disso tudo que nos é apresentado? Nos livros não “sobem letrinhas” como nas entradas de programa ou fins de filme, não existe câmera que mostre suas caras.
Eles estão aí andando do nosso lado e nem sabemos.

Exigências do ofício?

Considerem. Pensem.

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